História da logística do Brasil
O Brasil é um país de dimensões continentais, o que representa um grande desafio para o setor logístico nacional. Integrar as cinco regiões brasileiras é uma tarefa árdua dada a necessidade de utilização de diferentes modais de transporte, dificuldades de infraestrutura e a escassez de investimentos. Porém, a logística desempenha um papel fundamental para o comércio e, sobretudo em um contexto de globalização, pode determinar o sucesso das empresas.
A histórica da logística no Brasil se inicia na década de 1960, quando, até então, o país detinha um mercado dominado por poucas empresas e que, consequentemente, não apresentava grande concorrência entre produtos. Contudo, o avanço tecnológico, principalmente ligado às comunicações e meio de transporte, os clientes brasileiros passaram a se tornar mais exigentes, o que demandou a expansão e diversificação do mercado.
Além disso, o cenário internacional também influenciou o comércio interno, haja vista que a Crise do Petróleo, que ocorreu no início da década de 1970, encareceu o preço dos combustíveis fósseis, e consequentemente prejudicou o Brasil, que já era altamente dependente do modal rodoviário. A partir desse contexto, os estudos logísticos voltados para a utilização de estratégias multimodais ganharam força, a fim de dinamizar o processo pós-produção.
Posteriormente, na década de 1990, com a adoção do Plano Real e novas políticas econômicas do governo brasileiro, o mercado novamente se viu aquecido pelo resgate do poder de compra da população; alinhado com a maior exigência dos consumidores, a liberalização da economia brasileira aumentou a concorrência entre produtos, de modo que as empresas passaram a repensar não só sua cadeia produtiva mas também a distribuição desses produtos, a fim de baratear os custos de produção e oferecer um preço de mercado competitivo ao consumidor.
Hoje em dia, com a popularização da internet e, principalmente, dos e-commerces, a logística passa a ganhar um espaço ainda mais importante: os consumidores podem adquirir produtos de qualquer parte do mundo diretamente por um clique. Desse modo, o desafio de entregar produtos a distâncias cada vez maiores em um tempo menor se faz presente na vida dos comerciantes e demanda estratégias ainda mais articuladas para manter sua competitividade no mercado.
O Modal Ferroviário
O modal ferroviário brasileiro apresentou em 2021 uma melhora de 3,6% em relação ao ano de 2020. Foram transportador em 2021 quase 507 milhões de toneladas úteis (TU), um crescimento de 100% no envio de cargas pelas ferrovias em comparação a 1997, quando as concessões feitas pela Agência Nacional de Transporte Ferroviário (ANTF) começaram
Os investimentos nesse meio de transporte estão cada vez maiores e um dos motivos pode ser a tentativa de diversificação nos modais de transporte brasileiro, como também o esforço para aumentar a participação desse meio de transporte na porcentagem geral do país que atualmente tem o modal rodoviário como o principal. Desde 2021, mais de R$141,9 bilhões (atualizada pelo IPCA) foram investidos com fins de reformar e criar novas malhas ferroviárias, comprar novos equipamentos e tecnologias, com o treinamento dos profissionais do ramo e dentre outras coisas da área.
Parte desse investimento foi usado para comprar novas locomotivas que estão ativas no momento. Em 1997 existiam 1154 locomotivas em serviço, já em 2021 esse número foi para 3297, um aumento de 186% em 24 anos. Enquanto que os vagões para transporte foram de 43.816 para 114.974.
A proporção da malha ferroviária brasileira chega a quase 30 mil quilômetros que se concentram em, sua maioria, nas regiões sudeste, sul e nordeste, mas que tem certa capacidade de atender as necessidades da região centro-oeste e norte do país. No Brasil, o transporte ferroviário representa, segundo a ANTF, 21,5% do total de meios de transporte e o rodoviário 67,6%, e os 10,6% são ocupados pelo transporte marítimo e outros. Enquanto que em outros países, como a Rússia e o Canadá, por exemplo, contam com 81% e 34% de transporte ferroviário, respectivamente.
Vale salientar que essa modalidade também apresenta um índice de acidentes muito baixo, sendo considerado um dos transportes mais seguros, tanto em relação a acidentes como também aos roubos de cargas. E também é a modalidade mais ecológica, pois uma locomotiva que puxa especificamente grãos, por exemplo, pode ser equipada com vagões graneleiros do tipo HPT que consegue armazenar quase 100 toneladas de carga em comparação ao caminhão graneleiro que pode levar 33 toneladas aproximadamente. Sendo assim, cada vagão leva o equivalente a três caminhões. Uma pesquisa feita pelo Insituto de Logística e Supply Chain – Ilos, mostra que os trens em comparação com os caminhões emitem 85% menos dióxido de carbono (CO2).
O Modal Marítimo
Já o modal marítimo representa hoje no Brasil a menor porcentagem de uso em comparação com os outros tipos citados nesse texto, com cerca de 10% no total de meios utilizados. Essa é outra modalidade que tem muita força e potencial para crescer no país, necessitando de investimentos mais consistentes.
O Brasil conta com 34 portos de diferentes tamanhos distribuídos ao longo de quase oito mil quilômetros de costas navegáveis e, de acordo com o Ministério da Infraestrutura, essa modalidade cresce 10% ao ano com grandes faturamentos, visto que esse é um dos meios mais utilizados para fazer o transporte internacional com outros países, principalmente com a China.
Outro ponto importante é que esse tipo de transporte poderia ter um grande aumento se fossem aproveitados boa parte das malhas fluviais que o Brasil possui. Contamos no país com oito bacias com quase 49 mil quilômetros de rios que podem ser navegados sem maiores problemas o que ajudaria muito no desenvolvimento do Brasil e o comércio com os países do MERCOSUL.
São apontados como alguns empecilho para o avanço no transporte marítimo o custo, o nível de organização e de tecnologia que o país tem em mãos no momento, a baixa agilidade que os navios tem, ainda mais quando estão carregados, e a quantidade de navios cargueiros que em 2019 eram 864, dentro da modalidade de transporte de carga de empresas públicas e privada, em comparação aos 3.673 navios dos Estados Unidos no mesmo período. Podemos falar também dos preços de combustíveis que tiveram relativa alta internacional por conta de conflitos e dos impactos ambientais e que influenciaram no valor dos transportes.
Desse modo, o transporte marítimo é o menos utilizado para envio de carga de maneira interna, no entanto, é o principal para o transporte de materiais na modalidade internacional, mas que de acordo com alguns especialistas possui capacidade para se expandir cada vez mais com os devidos cuidados e investimentos na área.
O Modal Aéreo
Mesmo representando uma porcentagem baixa do total de carga transportada no Brasil, o modal aéreo é um dos principais para a economia brasileira. O setor aéreo se baseia no deslocamento de carga e pessoas por meio de aviões nacionalmente e internacionalmente, sendo mais rápidos e flexíveis que outros modais de transporte.
O seu custo é alto, sendo esse um dos principais empecilhos para sua ampla implementação no país, mas o cenário está mudando. Acompanhando a recuperação econômica no país pós-pandemia, como é notado pelas 1.046 partidas diárias em maio de 2021, 43% a mais que em maio de 2020, uma leva de privatizações de aeroportos e novos acordos bilaterais estão aquecendo o mercado aéreo, o que anima empresas que queiram utilizar desse modal. Vale pontuar que empresas de aviação ultra low-cost estão se inserindo nesse mercado, o que é positivo para diversas organizações que queiram transportar suas mercadorias nesse setor, já que os altos custos para transporte terão uma enorme redução.
Dentre os setores que preferem esse modal, se destacam o automotivo, manufatureiro, químico e saúde. Ademais, esse setor registra cerca de 470,9 mil toneladas de carga movimentas, sendo 281,7 mil exportadas, algo positivo para o Brasil. E de acordo com estimativas da Seabury, o aumento da participação do setor aéreo crescerá 3,5% entre 2019 e 2022.
O Modal Rodoviário
Sendo o modal de transporte mais importante do Brasil, o modal rodoviário é fundamental para a economia brasileira. Essa maneira de transportar carga representa 60% de tudo que é produzido no país, movimentando mais de R$ 350 bilhões anualmente. Esses dados revelam como esse setor é necessário no contexto brasileiro. Contudo, é necessária uma reflexão sobre tal modal.
A chamada dependência da economia ao modal rodoviário se dá por questões históricas. Desde os anos 60, o governo brasileiro apostou na expansão das rodovias pelo país, menosprezando outros tipos de transporte, como é o caso do ferroviário. Isso resultou em um país automotivo, em especial na região sudeste, mas sem muita força em outros tipos de transporte. Ou seja, além de ter perdido boa parte de sua malha ferroviária e investimentos em outros setores por causa dessa aposta, o Brasil apresenta uma ineficiência de suas estradas, em razão de não ter tido um planejamento de como as gerir. Um exemplo disso é o estudo do Departamento Nacional de Transportes, que diz que apenas 10% de toda a malha rodoviária brasileira, composta por mais de 1,7 milhão de quilômetros, é asfaltada.
Ou seja, é importante que o governo brasileiro reconheça a importância de suas estradas, visto que é a principal forma que produtores transportam suas cargas pelo país. Mais investimento e preocupação em integrar esse modal com outras formas de transporte são algumas das soluções para esse problema.
Além disso, por serem preferíveis em curtas distancias, o modal rodoviário costuma transportar alimentos, como perecíveis e congelados. Vale pontuar outros tipos de carga, como as sólidas, vivas e perigosas.
O Brasil e a Infraestrutura: Caso nacional x Outros países
A melhoria da infraestrutura brasileira é fundamental para o desenvolvimento socioeconômico, pois favorece um melhor ambiente de negócios, na atração de mais investimentos, na competitividade das empresas e na geração de empregos. Uma rede de transportes adequada, disponibilidade de energia elétrica e banda larga livre de oscilações e interrupções a custos competitivos, por exemplo, são insumos essenciais para alcançar esse objetivo. Se isso não acontecer, faltam empregos e a inflação e todas as operações comerciais são prejudicadas. Segundo o Mapa Estratégico da Indústria 2018-2022, para que se tenha uma economia mais produtiva e inovadora, é preciso atuar em duas frentes:
I) Superação das deficiências que comprometem a produtividade (má qualidade da educação e o alto valor de tributos);
II) Desenvolvimento de competências, focado no aumento da capacidade de inovação.
Os serviços de infraestrutura são formados basicamente pelos sistemas de saneamento, transporte, energia e telecomunicação. Fazem parte de uma infraestrutura: rodovias, usinas hidrelétricas, portos, aeroportos, rodoviárias, sistemas de telecomunicações, ferrovias, rede de distribuição de água e tratamento de esgoto, coleta de águas pluviais, gás canalizado e sistemas de transmissão de energia, entre outros.
Um dos principais gargalos do crescimento econômico em países em desenvolvimento tem sido atribuído à infraestrutura deficiente, o que explica os grandes investimentos em infraestrutura que os governos e empresas desses países têm realizado. Segundo dados disponibilizados pelo Banco Mundial, em 2016, os países que mais investiram em infraestrutura de transporte com participação privada foram Colômbia, Índia, Turquia, Brasil, Irã, Panamá, México, Gabão, Filipinas e Vietnã (Banco Mundial, 2017). Considerando apenas os países da América Latina e Caribe, somente o setor privado foi responsável por investimentos na ordem de 195 milhões de dólares no setor de telecomunicações entre 2005 e 2015, enquanto que entre 2005 e 2016 foram investidos 120 milhões de dólares no setor de energia e 180 milhões de dólares no setor de transporte.