Crise energética: gás russo e os impactos de sua redução na europa

A Guerra Rússia-Ucrânia

Mesmo sendo recente, a crise energética na Europa é consequência de um longo contexto iniciado pelas tensões entre Rússia e Ucrânia. Essas tensões culminaram em um conflito sem precedentes no leste europeu, histórico para o continente e explicitando dois lados geopolíticos opostos, além de abalar suas relações econômicas.

A guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, já vai completar sete meses de duração, ceifando a vida de milhares de soldados russos e ucranianos. Esse conflito não se iniciou do nada e, para ser explicado, é preciso voltar ao passado de ambos os países.

Tanto a Rússia quanto a Ucrânia tiveram uma origem conjunta, a união de tribos do Rus de Kiev, formado durante a Alta Idade Média. Esse primeiro aglomerado marca o início de ambos os povos que, mesmo adquirindo línguas e culturas diferentes ao longo do tempo, continuaram bem próximos. Isso se deu ao longo do Império Russo e da antiga União Soviética, mas com a Rússia tendo um papel influente sobre a Ucrânia.

Além disso, outro ponto a se considerar é a relação Rússia e Ocidente, que raramente esteve tranquila. A longa distância entre ambas as regiões tornou difícil uma proximidade, evidenciando altas diferenças. Logo, uma espécie de rivalidade surge, especialmente quando a Rússia integra a União Soviética e adota um modelo social e econômico rival ao ocidental.

Isso fez com que os Russos buscassem se proteger e fazer um “cordão sanitário” contra a influência ocidental, ameaça para o país. O mais explicito foi a da Europa oriental durante a guerra fria, que acabou na década de 1990 após o fim da União Soviética.

Todavia, os russos, mesmo que se aproximando do ocidente, ainda preferiram manter partes desse cordão, especialmente com o continuamento da existência da OTAN e com um aumento do nacionalismo russo. A ucrânia entra nesse contexto em razão do país fazer parte dessa proteção russa e estar se aproximando com o ocidente, o que, para os russos, vai contra toda sua história conjunta com o país. Logo, as tensões se iniciam em 2014, com o Euromaidan e a invasão da crimeia, gerando a invasão russa na Ucrânia nesse ano

Desta forma, além de rachar uma relação já instável entre Rússia e Ocidente, a guerra arrasou a infraestrutura ucraniana e fragilizou as economias europeias, em especial a Russa, que passa a enfrentar diversas sanções. Além disso, o inverno europeu está chegando, questão que preocupa governos ocidentais fortemente dependentes do gás russo.

Relação entre a Europa e o fornecimento de gás russos

A Europa e a Rússia mantêm uma relação estreita em torno de um tema: o fornecimento de gás natural. Este, por sua vez, é uma fonte energética fundamental para os países europeus, sendo a principal fonte energética do continente, ficando somente atrás do petróleo. No inverno, o gás é responsável por fornecer energia e aquecimentos às casas, além de ser utilizado pela indústria.

Segundo Bruegel, consultoria especializada em economia, 40% do gás importado pela Europa vem da Rússia – grande parte através do Nord Stream 1 – tornando-se, assim, uma questão estratégica para a garantia dos interesses russos na região. Os russos detêm 25% de toda a reserva de gás natural existente no planeta, o que dá ao país o título de maior exportadora do mundo.

Desde o início da guerra da Ucrânia, as relações entre Europa e Rússia se estremeceram, de modo que o fornecimento de gás natural tornou-se uma importante arma de enfrentamento russo aos embargos europeus. No dia 22 de fevereiro, o Primeiro-Ministro alemão Olaf Scholz anunciou que suspenderia a operação do gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia e a Alemanha por meio do Mar Báltico. A declaração do chanceler se deu em um contexto de retaliação aos russos pelo reconhecimento de territórios separatistas no Leste Europeu. Ademais, um dos efeitos do início da guerra foi o aumento dos preços do gás natural, o que impactou os preços na Europa.

Do outro lado, uma das ações tomadas por Vladimir Putin para enfrentar os embargos europeus foi estabelecer que o país somente exportaria seu gás em rublos, o que foi considerado uma violação às sanções impostas pela União Europeia. Assim, os europeus recorreram aos EUA, que prometeram enviar 15 milhões de metros cúbicos de gás aos países. Ainda, alguns países, como Polônia, Bulgária, Letônia, Finlândia, Holanda e Dinamarca, sofreram com os cortes de gás russo por não cumprirem as exigências russas, o que foi denunciado como chantagem pela UE, que buscou alternativas nos países vizinhos.

A estratégia de Putin ocorre em um contexto de embargos do Ocidente contra bancos e instituições russas, que foram retirados do Sistema SWIFT. Assim, garantir que os países importem em rublo faz com que a moeda seja fortalecida e diminui a dependência da utilização do dólar.

Desse modo, em meio a cortes de fornecimento de gás natural, a UE decidiu aprovar um pacto que determina o consumo de gás 15% até março de 2023, uma maneira de diminuir a dependência dos russos e evitar que uma escassez ainda maior ocorra durante o inverno.

Impactos econômicos em ambos os lados

Com o início da guerra na Ucrânia um dos aspectos que preocupou muitos os países europeus, além do fato de estar ocorrendo um conflito na região europeia, era o gás russo. A Rússia é responsável por exportar 40% do gás natural para a Europa, que o utiliza para a produção de energia dentro de muitos países, em especial a Alemanha, a Hungria e a Itália.

A porcentagem de dependência desse produto varia dentro da Europa, mas é quase que um consenso que grande parte dos países possui algum nível de necessidade deste produto para o fornecimento de energia para a população e para as indústrias. Além disso, sem o gás russo, a preocupação aumenta e a busca por energias alternativas começa só que de maneira atrasada.

Os impactos econômicos para os países europeus são expressos na redução do PIB e da produção industrial, já que sem o gás natural para fornecer energia para muitas fábricas elas acabam por diminuir seu fluxo de produção ou até mesmo podem fechar. Aquelas que não fecharem terão aumento no preço da produção, visto que será necessário utilizar outros tipos de energia como a termelétrica que consiste da captação de energia através da queima de itens que tem a capacidade de liberar calor que são mais caras e mais prejudiciais para o meio ambiente.

Para alguns países como o caso da Hungria, a República Checa e a República Eslovaca nas quais pode haver uma redução de até 6% na produção econômica. Na Itália e Alemanha pode ocorrer o mesmo caso, só que em menor proporção, cerca de 1% na perda da produção econômica. Uma das alternativas que os países europeus buscam é diminuir a dependência da importação do gás russo e procurar outros mercados que possam suprir a necessidade interna, no entanto isso ainda se mostra um passo difícil para alguns deles, que estão amarrados exclusivamente com o gás natural vindo da Rússia e não conseguem buscar outras alternativas.

Já para a Rússia, mesmo com a queda na exportação de gás natural é improvável, de acordo com alguns analistas, que o país tenha uma receita menor, exceto em casos de mais cortes nas exportações. O motivo disso é que o preço do gás russo subiu com a guerra e com a escassez, justificando que mesmo com a queda, a quantidade que é exportada agora é mais cara do que antes, fazendo o país manter certo nível de controle econômico sob o preço e evitando prejuízos.

Perspectivas para guerra

Historicamente, períodos de riscos geopolíticos elevados são associados a efeitos negativos consideráveis sobre a atividade econômica global. Mesmo que esta guerra acabe hoje, sem um programa universal (e sério) de sustentação de renda, recuperar a economia é quase inviável

Segundo a BBC, a origem desse conflito está em 2014, quando a Rússia anexou a península ucraniana da Crimeia e apoiou as forças separatistas no leste da Ucrânia. Logo após, houve combates entre os separatistas pró-Rússia e as forças ucranianas naquela área. Até então, esse conflito havia provocado 14 mil mortes.

Alguns dias antes de Putin anunciar a chamada operação para a “desmilitarização e desnazificação da Ucrânia”, já havia tropas russas em prontidão para as regiões de Donetsk e Lugansk. A invasão se iniciou em 24 de fevereiro e invadiu o Norte e áreas mais próximas da capital, Kiev, em meados de março.

Recentemente, a Rússia acusou a Ucrânia de se retirar das negociações de paz, em março, “obedecendo às ordens” dos Estados Unidos, após “um equilíbrio difícil ter sido alcançado” entre Kiev e Moscou, lamentou o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov. Dessa forma, podemos perceber uma tendência para o aumento das tensões na região.