dólar tem queda no brasil em consequência das instabilidades internacionais

O conflito entre Rússia e Ucrânia fez com que o cenário internacional entrasse em turbulência, mesmo assim o Brasil tem sua moeda valorizada. Desde o início do ano, o dólar recuou 14,66% em relação ao real, sendo 7,73% apenas no mês de Março, fazendo com que o real fechasse o mês em R$4,75.

ENTENDA OS MOTIVOS DA QUEDA DO DÓLAR

Segundo Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, dois fatores principais explicam a recente queda do dólar em relação ao real.
São eles: a alta das commodities, das quais o Brasil é um grande produtor e exportador mundial, e a Selic (taxa básica de juros da economia brasileira) atualmente em 11,75%, com perspectiva de novas altas nos próximos meses.

“O real vinha muito desvalorizado, mas não havia nenhuma grande expectativa de correção no curto prazo, então a queda recente do dólar de fato surpreende”.
“O primeiro fator que explica isso é o fato de esse ser um ano muito favorável às commodities, movimento que foi reforçado pelo conflito no leste europeu. Isso deu um gás nos preços de uma série de itens e o real é uma moeda liquidamente beneficiada por esse fator, por ser o Brasil um grande exportador”, diz Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil.

Outro motivo é a forte alta de juros no Brasil, visto que o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou novamente a taxa de juros básica brasileira fazendo com que oil alcançasse a posição de segunda maior taxa de juros reais do mundo, atrás apenas da Rússia (os juros reais consideram a taxa de juros nominal, menos a inflação), e a quarta maior taxa de juros nominal, atrás somente de países com graves problemas econômicos, como Argentina (42,5%), Rússia (20%) e Turquia (14%).

O QUE ESTÁ MEXENDO COM O MERCADO EXTERIOR?

Devido a expectativa positiva dos investidores em relação à nova rodada de negociações diretas entre Ucrânia e Rússia, os preços do petróleo operaram em queda. As negociações diretas entre os países foram de que a Rússia tentaria reduzir suas operações militares em Kiev e na cidade de Chernihiv, no norte da Ucrânia, enquanto a Ucrânia promete adotar a neutralidade, ou seja, não se juntaria a alianças militares, como a Otan, nem hospedaria bases militares em seu território.

A maior cotação do barril de petróleo foi em 2008 e chegou a U$146,08. Já no mês de Abril deste ano, o barril de petróleo teve o aumento de 40%, chegando a US $139.

O DÓLAR VAI CONTINUAR CAINDO?

Segundo Rocha e Campos Neto, o dólar ainda pode cair mais sim, no horizonte próximo.

“Olhando todos os vetores que estão puxando o dólar para baixo, não temos ainda perspectiva de uma mudança de cenário. Os preços de commodities continuarão pressionados e a Selic, por mais que o Banco Central queira já apontar para um fim do ciclo de alta, ainda não dá para escrever em pedra qual vai ser o nível final da taxa de juros”, observa a economista da Claritas.

A queda do dólar poderia trazer a diminuição da inflação caso fosse sustentável, pois compensaria parte do efeito da alta das commodities e também poderia baratear a importação de insumos.

Mas Marcela Rocha, economista na Claritas Investimentos, avalia que não é esse o caso.
“Para ter um repasse dessa queda do dólar para a inflação, seria necessário ter visibilidade de que esse quadro vai durar por algum tempo, mas não é isso que vemos hoje”, diz ela.

Campos Neto inteira que na balança comercial pouco efeito poderá ser sentido pelos exportadores – que se beneficiam dos altos preços das commodities – além do mais, para quem importa bens industriais pode ser ainda mais favorável, diante da perspectiva de que a economia brasileira pode ter algum crescimento este ano, mesmo que baixo.