No dia 30 de outubro de 2022, o Brasil elegeu seu novo presidente para um mandato de quatro anos, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, com 50,9% dos votos e derrotando o presidente Jair Bolsonaro. O retorno de Lula marca uma mudança na diplomacia nacional que, por meio do histórico de seus últimos governos e do que foi proposto durante a campanha, pode acarretar em mudanças importantes para a diplomacia e a economia brasileira.
Histórico econômico-diplomático do governo Lula
Com a chegada de Lula a presidência do Brasil em 2003, a política externa nacional sofreu profundas mudanças, com o país adquirindo um grande prestígio internacional ao longo dos oito anos do governo.
Desde os anos 90, o Brasil já possuía grande relevância no âmbito externo, que trouxe bons frutos para o país. Um exemplo foi a realização da Rio 92, a maior conferência do clima já feita até então. Isso trouxe ao Brasil uma imagem de país que se preocupa com a natureza e sua biodiversidade, questões que, atualmente, se mostram abaladas.
Ademais, vale ressaltar que por ser ter posições independentes e optar, sobretudo, pelo consenso, o Brasil é visto como um país diplomático e com visões bem definidas das questões políticas e econômicas do mundo, o que foi reforçado pelo Itamaraty durante 2003 e 2010 e, tendo como exemplo principal, a rejeição brasileira à Guerra do Iraque orquestrada pelo governo de George W. Bush.
Após a posse, Celso Amorim, um diplomata renomado, assume o Itamaraty como ministro das relações exteriores, permanecendo no cargo até o final do segundo mandato de Lula. Durante esse período, mantém boas relações com potências ocidentais, como EUA e os países da Europa Ocidental, fortalece relações com os vizinhos da américa latina e olha para o mundo emergente, como Rússia, China e Índia. Paralelamente, ocorre um boom de commodities, com o Brasil aproveitando disso para incrementar suas exportações de produtos primários.
Nesse boom, a China começa a se tornar um de nossos principais parceiros de exportação, mas a União Europeia também ganha destaque em nossa balança comercial. Um exemplo é o começo das negociações de um Tratado de Livre Comércio entre União Europeia e Mercosul, que levaria a redução de taxas de importação entre os blocos, queda de barreiras tarifarias, aumento de investimentos e cooperação na regulamentação de práticas econômicas entre ambos os blocos.
Desta forma, o Brasil termina o governo Lula com grande destaque mundial, seja no âmbito político como econômico e, possivelmente, será isso que o próximo governo de Lula buscará alcançar de novo.
Propostas apresentadas e diferenças com a política externa do atual governo
O novo mandato de Lula marcará o retorno de políticas já antes conhecidas, como a oposição à privatização e a cooperação Sul-Sul. Entretanto, vale pontuar a questão climática, que vem a tona com mais força do que nos primeiros mandatos do presidente.
Primeiramente, começando pela questão da privatização, o novo governo se mostra contra a privatização de empresas estatais com grande impacto no país, como é o caso da Eletrobras, pela questão da segurança energética defendida pelo presidente-eleito, e os Correios, que gera longos debates no âmbito político e entre a população do país. Essa questão da privatização é importante, pois, se relaciona com a chegada de possíveis compradores estrangeiros que podem se interessar na obtenção dessas instituições, visando expandir suas atividades ao longo do território nacional. Esse ponto se diferencia com o atual governo, que já deu declarações de estudos sobre a privatização de empresas, como a Petrobras, e que realiza muitos leilões, como ocorreu com diversos aeroportos.
Outro ponto a ser considerado é o foco de cooperação Sul-Sul e da defesa do multilateralismo. Com a grande mudança da política externa testemunhada no atual governo, o Brasil passou a ser visto como um país que possuía uma visão de mundo que, as vezes, divergia dos interesses comuns ou do que o país já vinha defendendo. O enfraquecimento do Mercosul e o grande estímulo para a candidatura do Brasil à OCDE são exemplos disso, em que o país renunciou a seus posicionamentos antigos para alcançar novos patamares em sua política externa.
Todas as ações possuem consequências, e com essas não foi diferente. Com a falta de participação brasileira dentro do Mercosul, as relações entre os países foram afetadas, o que, em uma perspectiva comercial, afeta a economia brasileira. No caso da OCDE, ocorreu o mesmo, em que o Brasil abandonou seus status de “país em desenvolvimento” dado pela OMC, que garantia benefícios comerciais ao país.
Já em relação ao clima, fica evidente que Lula tenta posicionar o Brasil dentro dos debates sobre o clima pelo grande histórico verde do país quanto a temas como desmatamento e fornecimento de energia. Entretanto, a alta do desmatamento recente afastou o Brasil dos focos de discussão atuais, enfraquecendo o tema e afetando a economia nacional, como a oposição da França a compra de frango brasileiro pela produção do mesmo ir contra várias leis ambientais europeias. Ou seja, esse ponto será muito debatido entre a composição do próximo governo.
Desta forma, além de voltar com inúmeras recepções diplomáticas de líderes mundiais, o presidente Lula promete o retorno ao multilateralismo e integração regional, com foco no chamado Sul Global. As exportações, possivelmente, continuarão as mesmas, visto que é um ponto que não se altera entre os governos eleitos e, além de tudo, são fundamentais para a economia brasileira. Vale ressaltar também uma reforma tributária que promete tornar o mercado internacional favorável aos interesses brasileiros. Logo, cabe assistir ao governo Lula e visualizar se as promessas serão cumpridas ou não.
Expectativas do mercado para suas aplicações
Em razão do cenário de instabilidade e polarização do Brasil, o mercado está receoso com as propostas de Lula.
Mesmo com as exportações provavelmente não se alterando, as questões tributárias chamam a atenção de empresários relacionados com essa área, em razão de ser uma reforma já prometida a muito tempo por governos brasileiros e que não possui uma visualização de eficiência concreta.
Todavia, o retorno de diálogos com outros países e antigos aliados é positivo para a economia brasileira, visto que o comércio pode ser ampliado. Ademais, o histórico de desenvolvimento da educação dentro dos últimos governos do petista, que são abordados novamente por sua campanha, podem fazer florescer novas pesquisas da área de saúde e tecnologia, que atrairiam empresas e levariam a formação de tecnopolos, como ocorre em São José dos Campos por exemplo, processo interessante para o setor industrial brasileiro.
Ou seja, cabe ao tempo e a movimentação do governo para visualizar quais serão seus impactos econômicos e diplomáticos, visto que será uma grande mudança para o país depois de 4 anos e que, mesmo prometido pelo presidente Lula, não contará com o saudosismo de seus primeiros anos no Palácio do Planalto.